Apesar de ter quarenta e poucos anos, Frankie é bonita, ou pelo
menos parece, por baixo do rosto cansado, com olheiras, sem cor nem brilho. Sua
existência se resume a sobreviver. Seu último ponto alto foi o batizado de um
sobrinho em sua cidadezinha natal e a compra de um videocassete, que ninguém
consegue instalar.
Sozinha, tem traumas de relacionamentos passados, com homens
que a traíram ou a maltrataram, então ela desistiu do amor. Desistiu também de
tentar mudar de vida, é melhor viver uma vida miserável conhecida do que se
arriscar para mudar e sofrer. Deus me livre de sofrer um sofrimento novo!! E
assim, Frankie se arrasta pela sua existência, sempre com a infelicidade e a
monotonia estampadas no rosto.
Mas então Johnny aparece em sua vida. Contratado como o novo
cozinheiro do café, ele não é nenhum príncipe encantado – pelo contrário. Com
seus quase 50 anos, ele também é um homem que levou uma rasteira da vida, ou
jogou alto demais e pagou por isso. Recém-saído da prisão por estelionato,
Johnny é um sujeito boa praça que um dia tentou ir além e acabou perdendo o que
tinha. Perdeu esposa, filhos, ficha limpa, autoestima. E passou a morar em um
apartamento minúsculo, sozinho, em uma vida tão vazia quanto a de Frankie.
A diferença, no entanto, é que Johnny tem muita vontade de viver.
Ele não tem medo de arriscar, e apesar de se sentir cansado e derrotado, ele
não aceita desistir da vida, e consegue ver em Frankie a pessoa que ela pode
ser – e se apaixona por ela. O sentimento é recíproco, ela o admira e se
envolve com ele, mas assim que ele pede mais, ela dá um passo para trás. Quando
ele quer ficar com ela, dar amor, dar tudo que ela sempre quis – uma companhia,
um amor, uma vida a dois, colorir a existência dela – o medo do novo toma
conta.
Johnny consegue ver em Frankie o que o bom observador também
consegue ver: ela não é infeliz, ela escolheu ser infeliz. Ela tem um emprego
ruim, mas poderia conseguir um melhor, ela é inteligente, jovem, capaz. Poderia
facilmente estudar e mudar de emprego. Ganha mal e mora num apartamento pequeno,
mas não é pobre. Foi muito bem criada em uma família do interior de classe média.
É uma moça atraente e bonita. Ela tem tudo pra ser diferente, mas escolheu manter
a vida estagnada, com a crença de que é mais fácil viver uma vida cinza, mas
que não dê trabalho, do que arriscar e sentir as grandes emoções e prazeres de “viver”
de verdade. E ela começa a ter muita raiva de Johnny por querer tirá-la desse
conforto miserável – quem é ele pra atrapalhar a vida dela, que estava indo bem
até agora?
Em um dos diálogos, ela diz ao amigo, indignada: “Ele me disse
que me ama e quer ter filhos comigo, você acredita?”, ao que ele, irônico,
responde “Que sem-vergonha!”
Frankie está deixando a oportunidade passar, escorregando
entre seus dedos, à medida que mantém Johnny a distância, e ele a lembra: “Frankie,
se você perder essa oportunidade, amanhã eu posso não estar mais aqui, e você pode
acabar com o primeiro idiota que aparecer” – mas ela sabe exatamente como ela
pode acabar, ela tem as colegas de trabalho como exemplos – aquela que busca o amor
no sexo casual, sem nunca conseguir se envolver; aquela que finge ter 30 anos a
mais do que tem, para que não haja risco de alguém se interessar por ela; e
aquela que escolheu a solidão e morreu solitária, num velório com meia dúzia de
pessoas. Ela sabe disso. E ela diz, chorando: “Eu não quero ficar sozinha, e eu
não quero ficar com alguém, eu não sei o que eu quero” – há quem entenda exatamente
o que ela está sentindo...
Finalmente, Frankie dá uma chance a Johnny, ao amor, e no
dia seguinte o sol nasce, iluminando o quarto, a cama, e a sensação é de paz, é
o fim de uma guerra interna onde ela decidiu pagar pra ver o que a vida pode
trazer de novo para ela. E pela primeira vez no filme ela não tem mais aquele
olhar cinza, ela dá um sorriso sincero e real.
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