19 April 2012

Diversidade já!!

Ontem recebi um e-mail de uma pessoa muito querida, que citava as regras para conduzir uma casa espírita "de verdade". Seguia-se então uma lista de normas e proibições, no estilo "não se usam roupas especiais nem guias para o trabalho", "não se usam atabaques ou música", "não se fazem rituais", e um item inteiro sobre como dar passes, onde não se deve usar movimentos bruscos, estaladas de dedos, assopradas, baforadas.

Uma casa espírita kardecista realmente segue esses regras no geral, assim como qualquer outra religião tem as suas regras; a umbanda, por exemplo, tem toda a ritualística e aparato adequados. Mas não consegui deixar de pensar na grande preocupação de muitas pessoas hoje em dia em manter uma religião ou crença "puras".

E antes de continuar meu pensamento, deixo claro que trata-se apenas de uma opinião minha, particular! Não quero provocar ninguém nem polemizar, só dar minha opinião.

Será que já não passamos da fase de tentar limitar as religiões? Hoje em dia vejo um grande movimento espiritualista, ou seja, gente que frequenta o centro espírita mas tem sua guia de oxalá escondidinha embaixo da camiseta, faz meditação uma vez por mês lá no Zulai e comemora a Semana Santa também. Gente, evoluir é justamente descobrir quem somos, nos distinguindo uns dos outros. O momento é de se conhecer e de se assumir, já está chegando ao fim o tempo em que sua religião dizia quem você era. Hoje é você que precisa descobrir quem é e viver essa personalidade, esse Eu superior, e cada um de nós, como seres individuais, vamos descobrir uma "religião" diferente, que será uma mistura de tudo que faz sentido pra nós.

Acredito em organização, mas querer limitar ou censurar comportamentos diferentes do "ideal" é transformar as pessoas em robôs - existem centros que tem até uma "coreografia" para o passe!Outros que proíbem livros de certos autores! Quem já trabalhou ou tentou trabalhar com a mediunidade sabe: sem espontaneidade, é impossível entrar em contato com as manifestações do alto. E essas manifestações são tão variadas, tão amplas, existe um universo infinito aí fora, e cada um de nós é um aparelho de rádio distinto que capta uma estação diferente nesse oceano de energias.

Repito: não sou contra as regras, elas são fundamentais para o bom funcionamento de qualquer casa. Sou mesmo a favor da diversidade e do respeito, e acredito num futuro onde não existirão mais religiões, apenas o amor a Deus e aos outros. Quem tenta rotular uma religião não está permitindo que ela evolua, e pros mais radicais, não esqueçam que Kardec sempre deixou claro que o espiritismo evolui, assim como todas as outras coisas. Temos que tomar cuidado para não pararmos no tempo...

2 comments:

  1. Olá!

    Li seu texto acima e gostaria de fazer algumas considerações.

    Antes, quero dizer que não estou aqui me arvorando na condição de defensor da Doutrina Espírita. O Espiritismo, como uma das expressões da Verdade, é senhor de si... Todavia, acredito que possa dar uma humilde contribuição para um entendimento melhor dessa questão levantada por você...

    Em primeiro lugar, o Espiritismo não é uma doutrina de proibições. Tudo que ela nos ensina deve ser passado pelo crivo da razão e do bom senso. É a chamada "fé raciocinada". O espírita compreende porque pesquisa, analisa, estuda, sente e experimenta pelo bem que faz ou deixa de fazer no dia a dia.

    As normas de uma casa espírita se pautam sobre informações trazidas pelos mentores desencarnados (vide Livro dos Espíritos, obras de Emannuel e André Luiz, ou ainda as de Joanna de Ângelis e Manoel Philomeno de Miranda) ou dos estudiosos encarnados (Allan Kardec, Leon Denis, Gabriel Delane, Ernesto Bozzano, etc).

    O termo "espiritismo kardecista" não é adequado por que ele quer dizer "espiritismo de Kardec", sendo a Doutrina uma revelação dos guias espirituais que seguiram, por sua vez, as diretrizes do Alto (consolador prometido). Kardec fora apenas o codificador, ou seja, a pessoa que organizou todo o material que ia sendo dado através dos médiuns.

    O Espiritismo é uma tentativa dos Planos Superiores de resgatar o Cristianismo primitivo, aquele dos tempos de Jesus, onde a forma de se fazer o bem era direta e simples: sem obstáculos materiais entre o homem e a divindade; sem a ritualística, a liturgia, o fetichismo que hoje envolve as igrejas.

    Nesse aspecto, a doutrina espírita é libertadora porque desamarra o ser humano de condicionamentos materiais, propiciando uma ligação mais direta com o Criador. Uma das condições para a evolução das religiões é a "desmaterialização" delas...

    É preciso deixar claro que o Espiritismo não condena, não critica, não exclui pessoa alguma que pense de forma diferente daquela apresentada em seus postulados.

    Todas as religiões sérias e manifestações saudáveis de espiritualidade são importantes na medida que religam o ser humano a Deus e o tornam uma pessoa melhor pela prática da caridade e da reforma íntima por meio do autoconhecimento.

    A diversidade já existe e está aí fora... Cada pessoa busca a religião com a qual mais se identifica. Não precisa trazer essa variedade para dentro de uma casa espírita (até porque, muitos querem o Espiritismo como ele é, precisamos respeitar isto).

    Essas diferenças que fazem parte também das diferenças culturais regionais (pois religião é expressão cultural), têm a sua razão de ser. É importante que seja assim, por enquanto.

    Os rótulos no plano físico, embora sejam limitantes, também são importantes, ainda. As idéias precisam da forma das palavras, os produtos nas prateleiras precisam de identificação, o espírito precisa do corpo... Além disso, a limitação dos rótulos pode ter finalidades educativas quando usadas para fins úteis e elevados, senão, transformam-se em instrumentos de preconceito e repressão. Não estamos desmaterializados o suficiente para dispensarmos essas identificações, essas classificações. Mas chegamos lá, algum dia!

    Para finalizar, recorro a uma citação sua: "(...)acredito num futuro onde não existirão mais religiões, apenas o amor a Deus e aos outros." Eu não acredito nisso... eu tenho certeza! :)

    Vou falar algo, aqui, que pode causar estranheza. Não sou espírita. O Espiritismo abriu tanto minha cabeça que percebi que o importante não é "ter" uma Religião e sim uma "religiosidade", um sentimento de estar ligado a Deus onde quer que estejamos dando o melhor de nós ao nosso próximo!

    Espero ter ajudado!

    Beijo no seu coração e muita paz!
    _

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  2. Olá Gaijin!

    Concordo com você, na verdade eu sou espírita há muitos anos, frequentei e trabalhei em muitas casas tradicionais e hj trabalho com apometria.

    Na verdade meu desabafo se deve não ao formato do centro espirita, nem às disposições de Kardec ou dos espiritos, mas sim às pessoas - que acabam se revelando xiitas e desculpe o termo, bitoladas, mesmo nessa doutrina que prega a liberdade. Acho que o post foi em tom de desabafo, pois o email me lembrou de experiências pessoais de em centros que "expulsavam" pessoas que não agiam de acordo com as regras, outros que proibiam certas técnicas, outros com investigação de fraude e etc.

    Enfim, me irrita mesmo a hipocrisia e preconceito de pessoas que não aceitam a mudança dos tempos nem respeitam quem aceita, segregam quem pensa diferente e transforma o centro em um lugar antiquado, empoeirado e com um pé no passado, e geralmente com integrantes que não fazem absolutamente nada do que pregam.

    Mas cada um tem seu tempo, eu sei, e nada acontece por acaso.

    Enfim, é mais um desabafo, eu amo o espiritismo, apoio, devo muito a essa doutrina.
    Abraço

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